Do UOL, em São Paulo
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Andar de bicicleta é uma realidade bastante comum em outros países, mas que somente nos últimos anos tornou-se mais popular no Brasil. E, neste novo cenário, cresceu o número de adeptos que utilizam a bike não apenas para diversão, mas também como forma de se locomover. Algumas pessoas não largam a "magrela" nem no momento de uma viagem, mas isso não é necessário.
Isso porque já dá para viajar e ter o apoio de ciclistas moradores da região que oferecem estadia confortável e intimista de forma gratuita, além de um bom prato de comida, por meio de uma rede social de hospitalidade para viajantes de bike. Um dos usuários é Isnard Quintela, 38, que é professor de educação física e começou a pedalar aos 22 anos, por lazer. No entanto, adotou a bicicleta como seu único meio de transporte há dez anos, inclusive durante viagens.
"Como são todos ciclistas também, eles entendem que viajar de bicicleta é um pouco imprevisível e não dá para saber a que horas vamos chegar. Mas, no momento que for, somos bem recebidos. É comum você chegar e dizerem: 'Olha, vai lá tomar seu banho que a comida está quente e eu espero você aqui'", conta.
Arquivo pessoa
Isnard abre a geladeira e a despensa para os hóspedes ciclistas
O contato com os anfitriões é feito por meio da Warmshowers. Atualmente, são mais de 97 mil membros inscritos no site, sendo que cerca de 45 mil estão dispostos a receber pessoas.
"Eu e minha esposa hospedamos os viajantes e oferecemos acomodação, banho e comida. E não tem essa de fazer diferença com a pessoa, a gente abre a nossa geladeira e oferece tudo o que tem dentro", diz Quintela, que retribui a hospitalidade ao abrir a casa para ciclistas que visitam o Brasil.
O requisito mínimo acordado entre os membros da rede é acomodação - que pode ser um quarto, um sofá ou até um quintal para acampar - e um chuveiro. Mas a maior parte deles, explica o professor de educação física, faz questão de ofertar refeições ao visitante. "Por mais simples que a pessoa seja, ela vai oferecer algo. Nem que seja só um prato de macarrão com molho", conta.
Choro na despedida
Arquivo pessoal
Adriana e a coreana Bô, ciclista que ela hospedou em casa e virou amiga
Muitos vínculos são criados nessa forma de hospedagem. A jornalista Adriana Marmo, 50, recebeu uma jovem coreana em sua casa quinze dias após inscrever-se no site. O que era para ser uma estadia de quatro ou cinco dias, virou 15.
"Era muito legal quando eu voltava para a casa e, ao abrir a porta do elevador, sentia um cheiro diferente saindo da cozinha. Ela gostava muito de cozinhar para mim e para o meu filho. Cada noite, fazia uma iguaria diferente, típica do seu país", conta. A sintonia foi tanta que rolou até choro na hora da despedida.
O amor vai de bike
Arquivo pessoal
Juliana durante sua passagem pelo Parque Nacional Kluane, no Canadá
A história da bióloga Juliana Hirata, 36, também mostra que é possível até encontrar o amor durante essas estadias. No mês de agosto, ela se hospedou na casa de um anfitrião na cidade de Helena, no estado norte-americano de Montana. A paixão rolou no primeiro momento em que se encontraram.
"Eu ficaria apenas por dois dias lá, mas acabei estendendo para dez. No mês seguinte, voltei por conta do trabalho", conta. O namoro foi oficializado logo que ela retornou ao Brasil. Mas em breve os próximos passos de Juliana a levarão para perto do namorado. "Vou pedalar pelos parques de lá: o Glacier National Park, Yellowstone National Park, Grand Teton e Zion National Park", planeja.
O plano é se hospedar em campings que ficam nas regiões dos parques, mas sempre contando com a solidariedade de outros ciclistas. Quando eles se encontram no meio do caminho, por exemplo, costuma acontecer uma troca de objetos. "Se estou voltando do deserto e não vou usar mais um equipamento para espantar ursos, dou para alguém que encontro e esteja indo naquela direção. Não custa nada ser legal", conta Juliana.
Todos ganham
Outra vantagem de hospedar-se com outros ciclistas é a certeza de que os anfitriões poderão entender e ajudar a suprir as necessidades de quem viaja em duas rodas.
"Eles sempre oferecem ajuda para a manutenção da bike, encher o pneu ou mexer na regulagem, por exemplo", diz Isnard Quintela. "Os anfitriões também dão dicas sobre os melhores caminhos locais para cruzar de bicicleta", ressalta Adriana.